2025 no mercado imobiliário: um ano de aluguel forte, crédito caro e muita expectativa para 2026
Tatyane Estevão
Analista de planejamento
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2025 no mercado imobiliário: um ano de aluguel forte, crédito caro e muita expectativa para 2026
Se fosse resumir 2025 em uma frase para quem vive de imóvel, seria algo assim:
aluguéis aquecidos, vendas crescendo em ritmo mais lento, juros no teto e investidores cada vez mais de olho no “imóvel de papel”.
Vamos por partes.
Locação: aluguéis em alta e carteira sob pressão
O ano foi dos inquilinos procurando imóvel e dos proprietários com poder de barganha.
O Índice FipeZAP de locação residencial acumulou alta de cerca de 7,4% no ano até setembro e quase 10% em 12 meses, variação acima da inflação oficial medida pelo IPCA.
O “combo” juros altos e financiamento caro empurrou muita gente que pensaria em comprar para a locação, o que manteve a demanda firme, sobretudo em unidades bem localizadas e de metragem intermediária, como os famosos três dormitórios. Ao mesmo tempo, a inadimplência de aluguel oscilou, chegando a patamares mais altos em alguns índices ao longo do ano, com orçamento das famílias apertado e novas fontes de endividamento, como apostas esportivas online, ganhando peso nas pesquisas.
Para imobiliárias e corretores, 2025 foi o ano de fortalecer análise de risco, garantias e esteira de cobrança, sem perder o cuidado com relacionamento, já que boa parte da inadimplência ainda vem de perda de renda, e não de má fé.
Compra e venda: lançamentos aceleram, vendas perdem fôlego
Do lado do mercado primário, os dados da CBIC mostram um quadro misto. De janeiro a setembro de 2025:
- lançamentos cresceram 8,4%, chegando a cerca de 307 mil unidades
- vendas avançaram 5%, para algo em torno de 312 mil unidades
No terceiro trimestre, especificamente, os lançamentos ainda subiram em relação a 2024, mas as vendas recuaram, o que elevou o estoque nacional para um nível equivalente a aproximadamente nove meses de vendas na média, acima dos oito meses registrados no semestre anterior.
Ou seja, o mercado continuou ativo, mas com comprador mais seletivo. Ticket médio subiu, o volume financeiro de lançamentos cresceu acima de 20% e o de vendas mais de 13%, o que mostra que o foco das incorporadoras continuou forte em médio e alto padrão.
Comercial: escritórios voltam ao jogo
O segmento comercial também mostrou resiliência. O FipeZAP Comercial aponta que, até setembro,
- os aluguéis de salas e conjuntos de até 200 m² subiram cerca de 7% no ano
- os preços de venda avançaram pouco mais de 2%
Setores como escritórios em eixos consolidados de grandes capitais voltaram a ganhar tração, em linha com a política de retorno ao presencial de grandes empresas e bancos. A rentabilidade média anual do aluguel comercial ficou acima da residencial, o que manteve o interesse de investidores que buscam renda recorrente em imóveis.
Investidor pessoa física: FIIs viram “segunda perna” do imobiliário
Enquanto o crédito imobiliário seguiu caro, os fundos imobiliários viveram um ano de recorde. Em 2025, o mercado alcançou cerca de 2,9 milhões de investidores, com patrimônio próximo de R$ 183 bilhões e mais de 500 fundos listados na B3.
Depois de uma fase de crescimento muito acelerado, o setor entrou em rota de consolidação, com investidores mais atentos a escala, governança e qualidade dos portfólios. Para quem está no “tijolo físico”, entender como o cliente está dividindo capital entre imóvel direto e FIIs virou parte da conversa comercial.
O peso da Selic: 4 a 0 para os juros em 2025
No pano de fundo, tudo isso aconteceu com a Selic parada em 15% ao ano, mantida pelo Banco Central por quatro reuniões seguidas, no maior patamar em quase 20 anos.
A inflação desacelerou ao longo do ano e voltou a ficar dentro do intervalo da meta, mas ainda acima do centro do alvo, enquanto o PIB andou de lado e o mercado de trabalho começou a perder fôlego. Mesmo assim, o BC manteve discurso duro, citando incerteza fiscal e deixando claro que prefere segurar os juros altos por “período prolongado”.
Para o mercado imobiliário, isso significou: financiamento mais caro, maior filtro de renda nas aprovações e muita demanda “estacionada” na intenção de compra, sem virar contrato.
E 2026: o que esperar?
O consenso hoje é que 2026 tende a ser um ano de transição, não de virada brusca. As apostas do mercado giram em torno de:
- Início de cortes na Selic no primeiro semestre, se inflação e cenário fiscal colaborarem, com juros ainda altos, mas menos sufocantes para crédito e investimento.
- Crédito imobiliário um pouco mais acessível, ajudado não só por eventual queda da Selic, mas também por medidas já anunciadas como novo modelo de SBPE, aumento do teto do SFH e retomada de financiamentos com entrada menor, o que tende a destravar parte da demanda reprimida de classe média.
- Locação ainda aquecida, mas com possibilidade de desaceleração nas altas, especialmente se o crédito melhorar e parte dos inquilinos migrar para compra.
- Segmento comercial seguindo a retomada gradual, muito ligado às políticas de volta ao escritório e à saúde do mercado de serviços.
- FIIs em posição interessante para aproveitar um ciclo de juros em queda, com mais investidores migrando de renda fixa pura para estratégias híbridas que incluam imóveis listados.
Para quem é de imobiliária ou corretora de seguros imobiliários, 2026 pede três movimentos:
- organizar bem a base de clientes que hoje “quer, mas não consegue” comprar
- cuidar da carteira de locação, combinando proteção contra inadimplência com relacionamento próximo do inquilino
- acompanhar de perto crédito, juros e mudanças regulatórias, porque a janela pode virar mais rápido do que parece.
Se 2025 foi o ano do mercado se adaptar ao juro alto, 2026 tem tudo para ser o ano de preparar o terreno para o próximo ciclo, com mais espaço para financiamento, novos produtos e negociações mais equilibradas entre quem compra, vende, aluga e garante.
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